Marcelo:
Muito obrigado.
A foto do Bresson é exatamente esta. Está pequenininha no seu link, de modo que só quem já a viu maior terá dela uma noção mais ampla, mas não tem importância. Pode ser vista maior no site da Magnum - www,magnumphotos.com - somente que agora é preciso se cadastrar para vê-las.
Você me pede uma iterpretação desta foto e que eu explique o porqueê dela ter me impressionado.
Pois bem, há trinta anos a vi e fiquei chapado. Não sabia diser porque fiquei tão impressionado, somente olhava e dizia para mim mesmo: “Caramba, que coisa incrível! Que foto linda!, que formas lindas!”. Não conseguia atinar com o método de execução nem com a razão para achá-la linda.
Posteriormente, devido ao estudo da percepção humana, das estruturas perceptivas, comecei a fazer uma leitura estética da foto, isto é, observar como havia uma temática de curvas quase concêntricas (a da escada, a da curva da rua no im, etc). Comecei a observar as posições das linhas fortes, o fato das verticasis da grade da escada estarem no áureo ou no terço, o fato de haver ângulos que definem o fim do espaço à esquerda e à direita de modo que a curva da rua parece centrada no lugar onde estava o fotógrafo, etc. Obtive aí uma compreensão formal da foto, e ela me maravilhava mais ainda. Mas não compreendi como fôra feita, isto é, como ligar aquele rigor incrível ao “momento decisivo” bressoniano.
Quando o bressom morreu, ano passado, passei alguns dias vendo suas fotos no site da Magnum. Sempre me maravilhava a composição, que já então compreedia tecnicamente, e me espantava o momento decisivo, isto é, pensava assim “Caramba, como pôede ele fazer essa composição tão boa num instante?”. Aí me caiu a ficha de não ser necessário o instate para a composição, somente para a cena humana, e finalmente compreendi a feitura desta foto.
Ela consiste numa magistral composição feita por quem sabia tudo das regras da percepção e composição (o Bressom estudou pintura antes de ser fotógrafo), feita pacientemente e cuidadosamente, somada a uma espera para que alguém ou algo ao passar na rua desse a essa composição linda seu significado único. Aí passou a bicicleta… Veja, mMarcelo, que nada impede ele ter feito outras quatro ou cinco fotos com outras pessoas passando, pois o cenário estava perfeitamente dominado. Assim entendido, ao invés de uma fotografia rápida compreendi ser uma fotografia estudada
Quando falo de micro-dramaturgia não inclui imaginar o que o personagem da cena estava fazendo. É algo menor e ao mesmo tempo maior que isso, que é imaginar que tipo de viver está ali representado, e por um momento compartilhar isso.
Espero ter lhe respondodo.
Abraços,
Ivan