Entrevista do aprendizado

Caros amigos:

por certo todos irão pensar: Poxa, o Ivan dar uma entrevista sobre fotografia é algo muito fora do razoável! Falta-lhe… tudo para isso. Enlouqueceu de vez!

Mas não é uma entrevista com E maíusculo, mas sim um entrevistar-se mútuo entre pessoas que se conheceram em listas de discussão, cada entrevista abordando aquilo que na outra pareceu ser seu interesse maior. No fundo é uma entrevista com um anônimo.

Apesar disso, ou por isso mesmo, o assunto rola solto, e termina havendo alguma coisa interessante na conversa.

Digo de antemão não me considerar Fotoógrafo, mas um aventureiro andadndo pelo mundo da fotografia, desejoso de quem sabe nele encontrar a Pedra Filosofal. A entrevista fala disso.

Quem tiver curiosidade de ler, por favor dando os devidos descontos, eu a transcrevi na minha página Multiply, por nela haver um grande resumo de certas idéias que tenho sobre fotografia e que vivo expondo aqui em em outros fóruns.

Como vêem, não tenho medo do rídículo -risos.

A entrevista está em:
entrevista

Se alguém tiver algum comentário, ou opinião sobre algum dos assuntos abordados, gostaria de ouvir. Não está completa ainda, foi gtranscrita no estado em que se encontra hoje, e certamente ainda haverá duas ou três perguntas antes do final, as quais acrescentarei quando acontecer.

E ae Ivan?
Tudo jóia?
Muito interessante a sua entrevista.
Deu para a gente te “conhecer” um pouco mais… heheh
Eu por ex. não sabia que vc fotografava desde os 15 anos.
Ah, e percebi que você tenta ou é “tecnico” em tudo que faz heheh ((inclusive sobre a fotografia que é sua paixão))
E puxa a vida! Vc sabe muito bem “colocar” as palavras… descrever as coisas, escrever! Muito bom!
A sua “locutória” é excelente!
“Queria te ver filosofando mais aqui no fórum” heheh

Como vêem, não tenho medo do rídículo -risos.
Opa! Não devemos ter medo disso! Aliás, o ridículo é ter medo... heheh

Abraços,

Renato

Obrigado, Renato.

Quando o John me convidou tive muito medo de lambuzar-me em vaidade, e tentei dar à entrevista todo o tempo o estilo analítico, não valando exatamente de mim, mas das coisas e das idéias.

Há uma imagem que diz devermos montar nos calvalos que passam encilhados na nossa frente -risos. Por isso aceitei.

Ivan

Bem “profunda” a sua entrevista Ivan…parabéns!

Você cita em uma parte que tem uma foto que te impressionou muito há 30 anos e te impressiona até hoje, uma foto do Henry-Cartier Bresson.

Seria essa?

Bresson

Vc poderia explicar um pouco mais sobre essa fascinacao? O que te fascina: o ângulo, o momento, método, ou oque?

Pode-se concluir que a pessoa desceu “correndo” a escada, pegou a bicicleta e saiu meio que com pressa?
Qual a sua interpretacao durante todos esses anos?

Um abraco,
marcelo

Show a entrevista Ivan, gostei principalmente da parte da busca do clique perfeito, renderia uma bela discução uma pergunta como aquela heheh!
Parabéns. :slight_smile:

Olá Ivan!

Bom encontrá-lo de volta.

Gostei da entrevista… A experiencia é interessante… E acho que uma entrevista revela muito o estilo da pessoa que está respondendo às questões… Voce foi (como vc mesmo disse) bem analitico e não senti muito a coisa da emoção. Mas eu gostei da forma como vc expressou seu envolvimento com a fotografia e o que espera dela.

Bom te-lo de volta!

Abraço,
Fernando

Marcelo:

Muito obrigado.

A foto do Bresson é exatamente esta. Está pequenininha no seu link, de modo que só quem já a viu maior terá dela uma noção mais ampla, mas não tem importância. Pode ser vista maior no site da Magnum - www,magnumphotos.com - somente que agora é preciso se cadastrar para vê-las.

Você me pede uma iterpretação desta foto e que eu explique o porqueê dela ter me impressionado.

Pois bem, há trinta anos a vi e fiquei chapado. Não sabia diser porque fiquei tão impressionado, somente olhava e dizia para mim mesmo: “Caramba, que coisa incrível! Que foto linda!, que formas lindas!”. Não conseguia atinar com o método de execução nem com a razão para achá-la linda.

Posteriormente, devido ao estudo da percepção humana, das estruturas perceptivas, comecei a fazer uma leitura estética da foto, isto é, observar como havia uma temática de curvas quase concêntricas (a da escada, a da curva da rua no im, etc). Comecei a observar as posições das linhas fortes, o fato das verticasis da grade da escada estarem no áureo ou no terço, o fato de haver ângulos que definem o fim do espaço à esquerda e à direita de modo que a curva da rua parece centrada no lugar onde estava o fotógrafo, etc. Obtive aí uma compreensão formal da foto, e ela me maravilhava mais ainda. Mas não compreendi como fôra feita, isto é, como ligar aquele rigor incrível ao “momento decisivo” bressoniano.

Quando o bressom morreu, ano passado, passei alguns dias vendo suas fotos no site da Magnum. Sempre me maravilhava a composição, que já então compreedia tecnicamente, e me espantava o momento decisivo, isto é, pensava assim “Caramba, como pôede ele fazer essa composição tão boa num instante?”. Aí me caiu a ficha de não ser necessário o instate para a composição, somente para a cena humana, e finalmente compreendi a feitura desta foto.

Ela consiste numa magistral composição feita por quem sabia tudo das regras da percepção e composição (o Bressom estudou pintura antes de ser fotógrafo), feita pacientemente e cuidadosamente, somada a uma espera para que alguém ou algo ao passar na rua desse a essa composição linda seu significado único. Aí passou a bicicleta… Veja, mMarcelo, que nada impede ele ter feito outras quatro ou cinco fotos com outras pessoas passando, pois o cenário estava perfeitamente dominado. Assim entendido, ao invés de uma fotografia rápida compreendi ser uma fotografia estudada

Quando falo de micro-dramaturgia não inclui imaginar o que o personagem da cena estava fazendo. É algo menor e ao mesmo tempo maior que isso, que é imaginar que tipo de viver está ali representado, e por um momento compartilhar isso.

Espero ter lhe respondodo.

Abraços,
Ivan

Obrigado, Leo e Fernando.

A entrevista ainda não terminou, acho. Depende do John. Ele é que declarará encerrada em algum momento -risos.

Fernando: a emoção está contida na poética. O que talvez você tenha estranhado é que em parte eu lido com a poética como algo palpável, examinável, inteligível, e não algo da esfera da espontaneidade. Isso não nega a emoção, apenas é uma emoção examinada e compreendida.

Por exemplo, muitas vezes escrever um poema é algo completamente técnico, embora pareça quem o lê muito emocional. Há um caso famoso que é O Corvo, do Edgar Alan Poe. O Poe deliberu escrever este poema, um dos mais famosos do mundo, e o construiu sabendo exatamente quais cordas emocionais estava tocando a cada momento. Não foi uma inspiração, mas cálculo e método.

Obrigado pelas boas vindas. Voltei antes do período que eu mesmo havia estipulado, e o fiz porque o importante era descansar a cabeça -risos. A verdade é que gosto muito disso aqui, de modo que os afastamentos ainda quando episódios necessários não são coisa que deseje.

To lendo, to lendo! Tá uma delícia!

Respondeu sim Ivan. E muito mais.

Bem interessante a sua visao e mais ainda a maneira que vc transmite isso.

Gol para os leitores :slight_smile:

“A fotografia não se faz sem a técnica, mas se faz para além da técnica, pelo menos vejo assim.”

Muito ótimo. A entrevista (que espero falte muitopra acabar) fez-me lembrar dum textinho que fiz uma vez intitulado “O guri que pescava olhares”, e nele, lá pelas tantas, eu recordava de quando era pequeno, do prazer que me dava ouvir o barulho da minha tarrafinha caindo na água, aquele som prolongado das chubadas mergulhando. E esse som parecia que coloria mais ainda o ambiente, mudava o sabor do ar que ali se respirava…

E hoje em dia, um POUCO mais consciente da “tríade fotográfica”, me dou conta de como tirar a câmera da bolsa e olhar ao redor tem um efeito parecido do som da tarrafa. O olho já está um pouco educado, e mesmo sem a camera já se observa o ambiente um pouco mais. Mas pegando a “querida” na mão, tudo muda de figura. Pessoas, objetos… tudo vira “assunto em potencial”, recebendo uma carga extra de significado e/ou simbolismo.

Boas palavras, Ivan, encorajam a seguir experimentando!

e assim que puder, darei uma lida em “Percepção e Composição Fotográfica”.

Obrigado, Xiru.

Tem de acabar! Afinal, não tenho tanta coisa assim para dizer -risos. Deixando de brincadeira, o Percepção e Composição Fotográfica é um texto mais instrumental, mais analítico das técnicas de composição. Em alguns aspectos, até mais útil.

Um grande abraço,
Ivan
PS: boa sacação da tarrafa. Quase pude ouvi-la.

Ivan,

Conheço-o há pouco tempo, mas ao ler seus inúmeros posts - aliás sempre de forma clara, simples e coerente, em bom português, por mais complexo que seja a questão abordada - sinto uma grande admiração pela sua pessoa. Após ler esta entrevista, então… Parabéns pela entrevista… estou lendo e relendo, pois algumas coisas lá requerem uma reflexão mais profunda para serem digeridas e absorvidas.

Obrigado, Zyk.

Aqui no fórum e nas listas escrevo meio direto, e o texto vai cheio de erros de digitação etc. Na resposta à entrevista caprichei um pouquinho -risos- para não fazer má figura.

Tentei nessa entrevista falar de problemas pouco abordados nas conversas em listas e fóruns, coisas mais da ordem da teoria mesmo.

Abraços,
Ivan

Obrigado pelo seu retorno Ivan, e por compartilhar sua alma conosco !
Como disse o Zyk, é preciso digerir com calma suas valiosas idéias…
Muito bom mesmo, parabéns !

Obrigado, Maurício, pelas boas vindas e pelo comentário.

Abraços,
Ivan

Mostra haver uma necessidade de educação da paciência, haver uma necessidade de atitudes que estão além do mero domínio técnico, da composição, etc, e se referem sim a uma educação da personalidade, a uma mistura de rigor e paciência.

Ivan… parabéns pela entrevista… a gente precisa um tempo para digerir todas as idéias, como já disseram aí atrás… mas o texto é muito bom…

Eu comecei a fotografar há muito pouco tempo, embora sempre gostasse de fotos… ainda tenho um mundo para aprender…

Mas uma coisa que me deixa um pouco ansioso é em “descobrir-me”. O que gosto de fotografar? Ainda não sei… Aliás esta questão de se descobrir sempre me intrigou… Na faculdade (Direito) tinha este quê também… do que gosto? Depois na profissão (Promotor) também entrei nesta crise… de que área eu gosto? Aí eu descobri e a coisa fluiu… Na fotografia ainda não cheguei a este ponto de resposta… só dúvidas…

Já notei que gosto de fotos de arquitetura… coisas históricas… mas as pessoas sempre me fascinaram… o cotidiano sempre me fascinou…

Daí vem a sua menção: a necessidade de paciência. Você disse bem e eu me sinto mais ou menos igual: pareço um elefante também no meio das pessoas. Parece que estou chamando mais a atenção. Como ser como Bresson: invisível?

Como mostrar o cotidiano sem interferir nele?

São apenas reflexões para mim mesmo, mas gostaria, se possível, que você comentasse algo…

Grande abraço.

Daí vem a sua menção: a necessidade de paciência. Você disse bem e eu me sinto mais ou menos igual: pareço um elefante também no meio das pessoas. Parece que estou chamando mais a atenção. Como ser como Bresson: invisível?

Como mostrar o cotidiano sem interferir nele?

São apenas reflexões para mim mesmo, mas gostaria, se possível, que você comentasse algo…

Grande abraço.


Bah colega, imagina se tu tivesse o cabelo azul… :mf_w00t2:

Pelo menos com as digitais dá pra disfarçar bem melhor que com as analógicas, pois não precisamos grudar elas no olho e ficar mirando o assunto. mas é como roubar doce do quarto dos irmãos… tem que ir devagar, disfarçando…

Às vezes o local está tão tenso e caótico (como ruas cheias de gentes apressadas) que as pessoas nem se dão conta de estarem na sua mira. E acho que também estamos cada vez mais acostumados com fotos no dia-a-dia. Todo mundo tem camera, todo mundo tira umas fotinhos, todo mundo dá as caras num fotolog da vida e todos têm seus 15 minutos de fama. Quer dizer… eu já não noto tanta reação na rua por estar com uma camera “engatilhada”.

Fernando e Xiru.

Essa idéia de paciência refere-se bastante ao meu momento, embora seja válida, penso, para muito. Explico. Depois desses últimos dois anos nos quais fiz um pouco de tudo, quase, vejo hoje haver uma parte grande não do mei interesse, e uma parte pequena me interessando muito. Ao Fernando digo ter acontecido isso -e continuar acontecendo- gradativamente. Os primeiros seis meses de digital foram completamente experimentais. Qualquer coisa me fazia fotografar, pois era experimentar uma liberdade nunca tida. Permanecia fazendo retratos familiares intimistas, seguindo a tradição praticada no filme, mas experimentava meio sem rumo. Lá pelo fim desse período comecei a reencotrar o mesmo Ivan do filme, comecei a ser atraído pelos mesmos temas de antes e pela mesma maneira de fotografar. Mas ainda permanecia a experimentação. De lá para cá sinto cada vez mais convergir para poucas coisas. Às vezes uma foto me mostra algo e nela reconheço parte do caminho. Então a idéia de paciência quer dizer? “tá bom, Ivan, você já experimentou bastante, agora é hora de concentrar-se em fazer alguma coisa que preste, mesmo fazendo menos coisas”.

Quanto às pessoas, não é complicado fazer fotos furtivas, basta uma grande angular para isso, pois as pessoas não sabem que a foto as inclui. Mas não é esse meu propósito e sim fotos ao mesmo tempo consentidas e naturais. Devem ser consentidas porque isso implica em não tornar objetos as pessoas, e deve ser natural pois é assim que gosto, embora mesmo uma pose seja natural, uma vez que revela algo do fotografado.

Abraços,
Ivan

Ae pessoal… entrevista atualizada!!

Alto nível :thmbup: