Fim da Comunidade do Orkut "Discografia"

16/03/2009 - 06h30
Orkut perde sua maior comunidade para troca de músicas

DIÓGENES MUNIZ
editor de Informática da Folha Online

Quase 1 milhão de internautas amanheceram nesta segunda-feira (16) com uma comunidade a menos no seu Orkut. Após meses de queda de braço com representantes das gravadoras, a comunidade “Discografias” anunciou, no domingo à noite, seu fim.

Criado em novembro de 2005, o endereço abrigava 921 mil usuários cadastrados --o número de pessoas que a utiliza efetivamente ultrapassava 1 milhão, já que para acessar seu fórum não é preciso se inscrever. Ali, internautas compartilhavam links com álbuns musicais inteiros sem pagar nada. A organização e o volume de material fez com que o endereço se tornasse uma das principais plataformas na web brasileira para quem procura esse tipo de conteúdo.

“Informamos a todos os membros da comunidade ‘Discografias’ que encerramos as atividades devido às ameaças que estamos sofrendo da APCM [Associação Antipirataria Cinema e Música] e outros orgãos de defesa dos direitos autorais”, diz uma nota publicada no Orkut, assinada pelos moderadores, que não se identificam. A nota não informa que tipo de ameaça estaria sendo feita contra eles.

Essa exclusão já era aventada pelo próprio Google, responsável pelo Orkut, desde 2008, conforme adiantou a Folha Online em outubro do ano passado. “Não é com o fechamento desta comunidade e outras equivalentes que as gravadoras irão aumentar seus lucros”, afirmaram os moderadores, no comunicado de despedida.

Poucos minutos após o anúncio, a repercussão do caso tomou dezenas de blogs e twitters (microblogs), que protestaram madrugada adentro.

A APCM, por meio de nota, disse hoje que o encerramento do fórum é “positivo”. A entidade vinha notificando o Google sobre a “ilegalidade” da comunidade há meses. O Google, por sua vez, negou que tenha entrado em contato com os administradores da comunidade para pressioná-los.

“Os apreciadores da boa música tem uma grande oferta de comunidades para discutir seus temas e artistas favoritos”, afirmou diretor de comunicação do Google Brasil, Felix Ximenes. Para ele, “é uma pena que a comunidade ‘Discografias’ não tenha encontrado pontos convergentes com as demandas da APCM”.

Guerra

No ano passado, a APCM já havia declarado guerra à comunidade, tida como sua principal inimiga na rede. “Em se tratando de música, ninguém tem mais arquivos que violam direitos autorais do que a ‘Discografias’”, disse à Folha Online Edner Bastos, coordenador antipirataria da associação que defende a propriedade intelectual.

A declaração acirrou os ânimos, fazendo circular um abaixo-assinado (que conta com 26 mil nomes) contra a exclusão do endereço. À época, a associação conseguia, com auxílio do Google, excluir alguns pedaços da comunidade, mas admitia ter problemas com o tamanho e a complexidade do fórum.

Os moderadores também chegaram a se defender, em entrevista por e-mail realizada em outubro último. “Muitas bandas, hoje, tanto no Brasil quanto no exterior, assumem que não fariam sucesso se não fosse a internet. Até o Presidente da República deu uma declaração favorável sobre ‘baixar músicas da internet’. Ilegal e pirataria, na nossa opinião, é a venda de CDs piratas”, disseram, sem sair do anonimato.

Fonte: Folha Online 16/03/2009.

Eu era um deles :frowning:

Não que eu baixava tudo que havia na comunidade, mas por exemplo, antes de comprar o CD original de uma banda, gosto de ter uma prévia do conteúdo, para assim então decidir se vale a pena comprar ou nao o CD.

Essa medida de fechar a Comunidade irá resolver alguma coisa? Na minha opinião, não, basta pesquisar no próprio orkut, horas depois do fechamento oficial da comunidade dezenas de outras foram criadas.

Em Off: Esses dias presenciei aqui na minha cidade, um “puliça” comprando CD “Genérico”, eu até pensei em tirar uma foto, mas minhas atuais lentes não permitem uma foto com uma distância segura :dizzy_face:

Vejo isto direto… na minha opinião é a prova da desmoralização da instituição… se quer ir lá comprar… ao menos não esteja fardado.

:aua:

faça o que eu digo, nao faça o que eu faço

Aqui você está falando de um camarada que está ao nosso lado, isto é, ombro a ombro comprando o produto. E quando o mesmo “puliça” está do lado de lá do balcão?

Isso já é bastante comum.

Eu era um membro também. Não sabia do fechamento da comunidade e entrei para dar uma olhada, parece que já está de volta!!!
Pelo jeito está sendo reconstruido o banco de dados… :frowning:
Mas fiquei muito feliz, já abaixei muitas raridades lá que não podem ser compradas mesmo que quizesse, além de ter enriquecido muito meu repertório e conhecido muitas coisas novas. :slight_smile:
Faz tempo que não abaixo nada… mas, recomendo a todos!

Abraços!

Eu também.

Eu gosto de acompanhar esses debates sobre direitos autorais, sobretudo porque acho que a questão não é tão simples como costuma se colocar, isto é, que ao baixar um disco, seja ele o último lançamento ou fora de catálogo, estamos prejudicando o artista. Essa lógica, de cunho moralista, é simplista demais.

Esses dias aqui em S. Paulo, o Zé do Caixão descobriu que seu último filme estava sendo vendido por camelôs na 25 de março. Ao tomar ciência disso foi ele com a imprensa local ver o que se passava, de fato, na rua de comércio mais popular do país. Chegou lá ele foi ovacionado pelos pequenos comerciantes que até pediram para ele autografar os filmes. Sem saber o que fazer porque a intenção inicial era outra, Zé do Caixão não só autografou os DVDs piratas, que passaram a ser vendidos mais caros pelos camelôs, como também constatou que a questão era mais complexa e que aqueles homens ali eram a “bucha do canhão”, que não enriqueciam com o comércio, apenas sobreviviam com ele. Zé do Caixão que também tem origens humildes, ficou mais sensibilidade com o episódio do que revoltado com o comércio ilícito.

O fato é que esse é um embate de grandes empresas, que já ganharam rios de dinheiro com o mercado fonográfico, e que diante da nova configuração perderam e muito seus rendimentos e como ainda não encontram o caminho para voltar a faturar como antes ficam armando ofensivas contra comunidades no orkut, blogs, etc.

Qual a posição do artista nesse processo todo? Uns têm refletido sobre a situação e até defendido a circulação irrestrita de bens culturais, outros menos preocupados com tais questões costumam reproduzir o discurso oficial das gravadoras.

Eu não defendo ações que prejudicam o artista, que interferem no seu ganha-pão (nem posso fazer isso aqui), sobretudo os que se encontram fora de uma estrutura agressiva de mercado, mas sinceramente não acho que é bem ele que perde com a reprodução de música na internet, além disso existe outras formas de um músico ganhar a vida que não seja com a venda de CDs, sempre ouvi dizer que eles faturavam mesmo com shows, propagandas, comerciais, etc.

O fato é que no Brasil, poucos criadores ganham a vida com direitos autorais, exceto um grupo muito restrito que vende milhões, que está atrelado à indústria cultural. Músicos independentes, autores desconhecidos, esses acho até que copiam seus próprios trabalhos para divulgá-los.

Pra falar bem a verdade, eu quero mais que as gravadoras vão para o inferno…