Fotografias vencem concursos feitas em expedições fotográficas

Recentemente tenho visto fotografias vencedoras de concurso onde percebo que foram produzidas em expedições fotográficas. Alguns exemplos:

HIPA


Está gerou polêmica, pela magnitude do concurso e valores. Segundo as regras do concurso não há nada errado.

Recentemente tbm tivemos a foto ganhadora do Paraty em Foco, um retrato de um pescador de Cormoran na China, onde já é sabido que devido popularidade entre fotógrafos eles inclusive cobram para posar para o famoso retrato em seus barquinhos.

A fotografe Melhor esta semana também premiou uma fotografia que sei ter sido produzida pelo fotógrafo em expedição fotográfica no Sertão Nordestino sob comando de um fotógrafo bem conhecido.

Enfim, qual a opinião de vocês sobre o assunto?
Dos 3 exemplos citados, dois referem aos trabalhos como fotografia documental, enquanto outro (PEF) não especifica, isso muda a sua opinião?

Assunto interessante, mas vou deixar para dar a minha opinião mais tarde, para não influenciar neste momento a galera que quer refletir sobre o assunto.

Pelo que entendi o que vc propõe é uma analise do suposto conflito de realidades, a do momento em que o fotografo produziu a imagem, e depois a do momento de quem leu e interpretou a foto.

Oi Lindsay… Sim seria mais ou menos isto. Estou sem computador e em viagem, peço perdão pelo texto mal escrito, sou péssimo escrevendo no celular, acho difícil de “acolherar as ideias”.

Reflito sobre a relevância das fotografias, sendo elas feitas dentro de situações controladas (expedições fotográficas, onde geralmente quem organiza já escolhe os “modelos” e os posiciona em locais determinados sob boa luz para os participantes fotografarem), e se podemos classifica-las como fotografia documental. O mesmo para o caso do pescador de Cormoran, um local extremamente explorado nesse “turismo fotográfico”. Veja que não condeno fazer a fotografia em si, mas questiono que acabem vencendo concursos de Fotografia.

O primeiro exemplo gerou muito polêmico pois o ganhador levou um prêmio de 120 mil dólares pelo primeiro lugar em um famoso concurso, e depois apareceu a imagem dos bastidores. Será que se os demais que ali estavam inscrevessem suas fotos o prêmio seria dividido?

Olha… O primeiro caso, da fotografia feita em expedição com todo mundo fazendo a mesma foto. Sendo franco, no meu entender é trabalho do fotógrafo criar o elo com o retratado. Portanto me parece inválido

No segundo caso, eu sei que tem gente que dirige as fotos para fotografia documental como uma poética sobre alguma realidade, outros não aceitam nada encenado. Não tenho como opinar.

No terceiro caso não sei o quanto o olhar estético foi do fotógrafo que estava fazendo ou orientando. Não vejo como opinar. O primeiro caso realmente me soa
meio fotografia fácil. Pois se eu entendi não foi preciso criar conexão alguma. Fazer o que… Imagino quem se ralou para fazer foto, ver essas coisas…

Expedição fotografia não é sinônimo de foto encenada.

Em uma visão pragmática, se não fere as regras estabelecidas, vale. Se necessário, revisitemos as regras e a fila anda.

O problema é quando existem regras que podem ser interpretadas de forma diferente dependendo de quem as aplica, tipo copo meio cheio ou meio vazio. Neste caso uma comissão pode minimizar o problema.

Na minha opinião registros em expedições fotográficas não vejo problema, afinal o assunto está ali para ser fotografado por quem e da forma que quiserem. Já foto encenada seja ela em expedição ou nao acho esquisito valer.


1- O diabinho em minha cabeça pergunta se natureza morta seria encenada ou não!?

2- Dependendo dos argumentos que colocarem aqui posso mudar de opinião tranquilamente. :snack:

O segundo exemplo creio não se limita a encenar a cena, coisa que, até um certo ponto, não acho que desabone o documental, e sim ir a local onde as coisas estão lá para ser fotografadas e fazê-las exatamente como milhares já o fizeram, sem ao menos tentar buscar uma nova narrativa, um fato novo, uma abordagem alternativa.

Veja que não acho errado fazer esta Fotografia, usando-se de ângulos já consagrados por outros fotografos que certamente renderá uma imagem bonita, no entanto penso que para concursos a imagem deva ir além do impacto visual, deve ter conteúdo, história, etc.
Penso se talvez caminhamos em direção de valer cada vez mais o impacto visual da imagem em si e fique em segundo plano o contexto da imagem, ou seja fotografias cada vez mais “rasas/superficiais”? Algo como já vemos nas redes sociais?

Cormoran:


Stilt fisherman Sri Lanka

Ótimas contribuições ao assunto feito pelos colegas. :worship:
Interessado em ouvir mais comentários, é um tema espinhoso e é possível que minha própria percepção mude. :smiley:

Entendi seu ponto de vista Leandro. Mas neste caso em particular, um critério de avaliação adicional do tipo ‘originalidade’ (existe, mas não achei de imediato uma outra palavra melhor) não reduziria o risco de premiação de fotos com esta característica?

Vou responder com outra pergunta: Será que realmente se faz necessário criar este tipo critério de avaliação? Não deveria ser algo inerente ao processo?

Eu já tinha visto essa imagem num artigo do petapixel se não me engano.

Mas acho difícil cobrar isso de um júri, que cada uma saiba que foto é original.

Resposta curta: sim, deveria ser inerente mesmo. Concordo totalmente com você.

Contudo, como nem sempre o inerente/esperado/bom senso é materializado na prática. Fica a dúvida.

No primeiro caso foi. Não? O que me incomoda mais, é que a foto nao tenha nem sido preparada pelo fotógrafo, ou seja, nem a relação com o fotografado.
Só vejo como analisar o primeiro caso.
Mas vai ver é assim mesmo.
Quanto aos outros casos, me parece que existe maior chance de sermos injustos.

Imagine que alguém vem para o Brasil para fotografar crianças brincando na praia, e que o contexto da foto deva ser social …vai servir de capa e matéria política . A foto ser preparada. Posada. Eu não vejo problema algum. Ou mesmo no meio de uma expedição, aconteceu algum momento especial de alguma espécie animal, ou na natureza,mas ali no primeiro caso, a fotografia sendo dirigida sei lá por quem e dez pessoas tirando a mesma foto. Me soa estranho. Mas eu acho que cada um tem consciência, principalmente os que não são novatos, o que é válido ou não.

Também acho difícil. Imagino, que as fotos premiadas passem por uma melhor averiguação mais tarde. Não sei qual é o procedimento.

Eu penso um pouco diferente, e para mim não me importa se é encena ou não “foto é foto” e na história da fotografia tem várias fotos famosas que foram encenadas.

O importante é o olhar fotográfico.

Se uma pessoa trouxe alguém para posar para o um grupo de fotógrafos, vc terá fotos parecidas mas não iguais, a diferença e isso para mim é o mais importante é o olhar que cada um vai ter naquele momento, qual a composição, se vc vai estar mais perto ou mais baixo, que elementos no fundo vc vai incluir, se vai fotografar com grande angular ou normal ou tele, em qual momento vc vai apertar o botão, se vc vai esperar algum gesto da modelo, que tratamento vc vai dar na pós, etc.

Tudo isso é uma escolha nossa, e eu sei por experiencia própria que as vezes um passo para o lado faz uma diferença enorme na composição, as vezes é uma linha ou um objeto que está no segundo plano, e é por causa desse passo ele entra em harmonia com os outros elementos dentro do seu visor.

Sobre originalidade acho um pouco difícil no mundo de hoje, de uma certa maneira tudo o que fazemos encontra referência em algo do passado.

E só lembrando de um caso polemico, o caso do Tamanduá-bandeira, esse sim foi desonestidade, já que feria as regras do concurso.

Ao fim e ao cabo o que importa é o que está contido entre as paredes do frame.
Se foi em expedição, se foi ensaiada, se foi posada, se foi ao acaso, se foi única, etc… o importante é a mensagem, o discurso, a mensagem que a foto passa sem necessidade de ser explicada, textificada.
EMHO.

Particularmente sou mais adepto à fotos ensaiadas/posadas/construídas do que simplesmente renderizadas/manipuladas digitalmente. Eu tendo a valorizar o esforço do fotógrafo…

Mas da mesma forma, isso tem limites: se o intuito da foto é apenas existir por si só, tudo bem. agora se for manipular uma narrativa/distorcer completamente a opinião do expectador de forma que ele interprete a foto de forma contrária à realidade em que a mesma foi extraída, então entra na mesma categoria de foto manipulada digitalmente: posso até achar bonita, só não dou o mesmo valor. :hysterical:

Talvez o fotógrafo do primeiro caso seja jornalista ou documentarista, ou de outro modo se dedique ao assunto e talvez eu esteja errado. Mas o que me incomoda no primeiro caso, além de parecer não ter esforço algum na abordagem, é que a foto tem traços sociais , uma certa emoção de tristeza, vista em fotojornalismo. Tudo bem se é para dar visibilidade, se o fotógrafo é envolvido com o tema, não tem traços capitais de uso da pobreza. Mesmo assim me parece foto fácil demais para o prêmio, pelo modo como foi realizada. O pior é que no começo me parece muito fácil alguem não pensar nessas questões, por empolgação no uso da camera. iNo meu entender é isso.

Então… Se a foto da mãe com a criança do primeiro post só tiver acontecido porque a mãe se arrumou com trajes típicos, arrumou a criança, etc, como não faria em um dia comum, é foto manipulada? Ou modelo manipulada? E se o guia de expedição achar que todas as pessoas daquele lugar são feias, e trouxer alguém de fora, mas com aqueles trajes típicos?

Sobre originalidade, uma anedota. Eu estudei o segundo grau em escola técnica. Tinha aulas de desenho, e eu era bom nisso. Teve um trabalho muito difícil, que, modéstia à parte, eu fiz muito bem. Um monte de gente não conseguiu, e acabou pedindo o meu, pra copiar. Alguns mais disfarçados, um deles escancarado.

O professor começou a olhar, deu sete pra um, oito pra outro… Até que chegou ao escancarado. Ele falou “Peraí, isso é tudo cópia!”. Encontrou meu desenho e reconheceu “ah, esse é o original” e tascou um oito num trabalho que merecia dez. Os outros também tiveram nota rebaixada.

Resumo: dá pra um monte de gente entrar no mesmo concurso com foto parecida. Mas todo mundo vai perder ponto por apresentar algo parecido com o resto.