Olhando de fora você jamais percebe o caos estético, vidas que se foram, vidas que permanecem, vidas que começam a surgir a todo o tempo, submissas a dura realidade que o bioma estabelece.
Mergulhando na escuridão úmida, cujo odor exalado revela claramente tal atmosfera, entrego-me às garras da floresta disforme, sinto em seu emaranhado de verdes as complexas experiências lentamente absorvidas, representadas em toda a sua estrutura. Como em um sonho, permito-me perder o controle, e assumo somente os sentimentos que instantaneamente brotam e me fazem meditar, embalado pelo silêncio hipnótico que me traz a certeza de que naquele momento o tempo parou.
Surge o medo pelo desconhecido, desconforto pela intromissão, plenitude pela experiência.
Deixo para trás aquele exótico agrupamento de formas de vida que provável jamais verei novamente, não esse local, não ali.
Os arredores dos campos de cima da serra estão cobertos pelas matas nebulares, florestas que em todas as vezes que empreendi minhas buscas, procurei visitar, algumas tão belas e ricas, outras nem tanto, como essa aqui, um ponto cujos manejos humanos deixam frequentemente suas marcas.
Ainda assim, a matriz única de tal natureza permanece, luta, provando que vida e morte são apenas processos, partes diferentes da constante transformação que rege as leis do Universo, afinal, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.
Em nossa mais recente incursão, em que voltamos ao pico Monte Negro nos Aparados de São José dos Ausentes - RS, tivemos diversos climas, luzes e situações, eis uma delas.
O Monte Negro, nome que faz jus a coxilha que está, diferentemente dos campos limpos ao redor, coberta de mata nebular, apresenta em vários pontos um bioma tão preservado que custa acreditar, já essa que compartilho, bem aos pés do monte, tinha heranças de fogo, gado e do próprio homem, lembrando quase um cemitério de árvores.
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