A fotografia como um instrumento de denúncia social

Texto de um aluno do 2º ano. Achei interessante (apesar de não concordar com tudo que foi escrito), vale até uma conversa sobre o assunto. Se desejarem, depois de ler podem colocar o que pensam do tema…

Acho que a fotografia jornalística cumpre bem essa função, mas como todo mundo carrega uma camera no bolso fica mais fácil registrar algum acontecimento,
o problema é quando ao invés de mostrar a verdade ela mostra a opinião dela sobre o assunto, ou seja, somente um ponto de vista.
eu tenho notado que as pessoas não gostam da verdade elas gostam de estarem certas, muita gente cheia de certezas e poucas com dúvidas.

Também não concordei com a conclusão do texto, embora eu veja que a fotografia possa ser também instrumento de denúncia social. Assim como de denúncia ambiental, etc.

Em tempos de argumentos tortos, ataques ad hominem (ataque à pessoa, não ao argumento) e tu quoque (você também está errado), parece que é cada vez mais necessário que este tipo de foto seja a mais fiel possível, do ponto de vista que nenhum elemento deve ser adicionado ou removido, sob pena de perder o valor de denúncia. Porque quem está do outro lado vai usar de quaisquer argumentos pra se defender.

A desigualdade no Brasil e no mundo pode indicar uma crise sim, mas não acredito que uma fotografia em 2021, tenha a pretensão de fazer uma sociedade mudar algo sem que ela mesma queira. É triste, suponho que as pessoas não querem se prejudicar, está além da minha compreensão, por isso me desculpem se eu estiver errado…eu tenho a impressão que ser herói, lhe puxam o tapete. Sim… é sério e difícil.

Como já comentaram muito bem, esse tipo de fotografia precisa espelhar a verdade dos fatos, sem ideologias, parcialidade ou sensacionalismo.

Não concordo quando ele diz:
“Portanto, a função de uma simples câmera, seja ela profissional ou de um smartphone, é de gerar imagens totalmente ácidas, incomodando grupos sociais e expondo, de maneira válida, as inúmeras diferenças societárias que sofrem com as tentativas de serem maquiadas.”
Sei que esse tipo protesto, como o próprio texto chama, é necessário, mas tem todo um contexto inserido nessa situação e diversos fatores que levam uma pessoa a registrar ou não.

O texto parece ser de um jovem engajado e preocupado com questões sociais. Nesse contexto, descobrir as possibilidades da fotografia como instrumento de denúncia é muito válido. Acredito sim que boas fotografias possam provocar reações que levem a mudanças. Um dos efeitos possíveis, entretanto, é a apatia. É comum que a gente veja essas imagens fortes, se comova por alguns segundos e continuemos com a vida.

Outro ponto a se pensar é sobre quem faz essas imagens. Eu não sou jornalista nem ativista, então não me considero na posição, por exemplo de fotografar uma pessoa em alguma situação de vulnerabilidade.

Tem coisas que me incomodam MUITO nesse tipo de fotografia. Uma delas é o oportunismo.

Acho que se o viés for jornalistico, fundamentado e com algum retorno social REAL para as pessoas, aí tudo bem, mas infelizmente o que vejo mais por aí são fotógrafos fazendo esse tipo de coisa para aparecerem do que para contribuir mesmo, em uma atitude muito hipócrita.

Uns anos atrás vi dois fotógrafos abordando um desses moradores de rua bem miseráveis para fazer fotos do coitado. Fizeram e simplesmente foram embora depois, os cretinos não deram NADA para o infeliz, nem comida, nem dinheiro, NADA !

Tem outra turma que faz o tal street social, posta tudo no instagram ou flickr e novamente não fez nada realmente de útil.

Claro que tem gente séria, mas é uma minoria absurdamente pequena. O resto faz porque “é maneiro” ou é “socialmente correto” ou alguma baboseira do tipo, sem ter o minimo engajamento real.

Sim, esse tipo de fotografia sem um engagamento sério, sem conhecimento é até perigoso.

Sugiro o filme O Abutre.

Daí temos esse outro tópico rolando, que fala justamente sobre esse aspecto:

Esses são pontos que resumem bem essa situação, não é qualquer um que vai pegar sua câmera para fazer esse tipo de foto, a não ser alguém engajado ou um repórter. Nessas duas situações pode rolar o oportunismo, transformar a situação em sensacionalismo ou tentar fazer uma situação parecer pior do que ela é, nesse caso pode ser realmente perigoso.
Claro que relatar o que acontece em qualquer nicho da sociedade é valido, mas não é qualquer um que vai ter coragem para fazer o registro.

Exatamente.

Teve uma época que infelizmente foi moda fotografar moradores de rua, idosos em situação vulnerável e comunidades na tal modalidade street social, inclusive aqui no MF e no BrFoto. Du-vi-de-ó-dó que 1% dos que semeteram a publicar essas fotos tivessem qualquer tipo de engajamento real. Puro oportunismo, saca aquela do cara dar um tapinha nas próprias costas ? O caso do politico-socialmente correto mas completamente inócuo.

Sim Felipe, mas ao menos o joven está falando algo, por mais que ele tenha uma visão muito simples da realidade, ele é um joven. Já essa atitude de filmar um estupro sem chamar por socorro me soa uma atitude perversa… é o que eu pergunto. Se a polícia não estivesse chegado, deixariam a mulher lá? … Iriam embora com o vídeo pra casa para fazer o que? Assistir como se fosse Netflix?

Muito pior

Ele é um jovem, e está inserido na realidade dele (assim como cada um de nós está inserido na própria realidade). Isso é muito importante. Eu discordei da conclusão dele porque creio que o intuito da fotografia vai muito além da conclusão dele. Por ser um jovem, creio que a realidade dele ainda é um tanto limitada. Dependendo da educação e vontade de aprender, a realidade dele pode aumentar muito.

Sobre filmar/fotografar um estupro, creio que dependa da circunstância. Nas áreas mais favorecidas, uma chamada pra polícia normalmente é atendida em poucos minutos. Em áreas ermas, quando chamadas são atendidas, pode demorar horas. Ao ver algo como aquele exemplo em local ermo, pode valer mais a pena facilitar a identificação do criminoso que chamar a polícia, se uma coisa excluir a outra. Não justifico o caso daquelas pessoas, mas é um aspecto a se considerar.

Finalmente, mesmo jornalistas, que deveriam estar em todas as realidades que devem cobrir, podem se encontrar na situação onde se questionariam se devem intervir ou não. Não sei se vc já viu este curta-metragem de 2013, que já foi discutido inúmeras vezes:

O que a fotógrafa deveria ter feito?

Legal … Obrigado por compartilhar o vídeo Felipe eu não tinha visto…

Eu não acredito que alguém faça jornalismo para ser premiado,nem que imagine ser mais importante que toda a estrutura que ele esteja inserido. Até porque é um peso nas costas, um conflito na mente, culpa. Não aguenta.

Boa noite Felipe.

Achei o vídeo interessante, mas infelizmente as pessoas estão cada vez mais apáticas com o sofrimento alheio.

Não acho que a questão seja ser premiado, embora isso tenha a ver com a temática do filme. Tem a ver com o dilema intervir ou informar. Especialmente em zona de guerra, intervir pode significar morrer.

Conflitos…
Tem que ser inteligente, esperto.
Se possível os dois… intervir e informar.

Trabalho difícil psicologicamente.

Não é para qualquer um.

Realmente imagino não ser fácil… Há um trecho do documentário “War Photographer”, que mostra o trabalho do Jim Nachtway (excelente documentário por sinal), onde ele é perguntado se ele não é afetado por todas as cenas de horror que ele fotografa. Ele responde: “It would be like asking a marathon runner if they feel pain. It’s not a matter of whether you feel it; it’s how you manage it.” ( seria como perguntar a um maratonista se ele sente dores. Não é uma questão se você sente, é como você lida com isto).

Ps: Legal o curta-metragem, mas faltou alguém ensinar a atriz como segurar a lente.

Hehe, me incomodou também. E desde a época do Orkut, quando vi esse curta pela primeira vez, o pessoal reclamou também.