Mini ensaio (4 fotos)

http://farm5.static.flickr.com/4071/4255962260_c97474c5b5_o.jpg

http://farm5.static.flickr.com/4017/4255962096_bb76513549_o.jpg

http://farm3.static.flickr.com/2724/4255199363_2fa94a3da3_o.jpg

http://farm5.static.flickr.com/4060/4255961992_f1d27f5690_o.jpg

Mais no Flickr.

Muito bonitas, criativas sem dúvida. Admito que se as duas últimas estivessem fora do contexto em que estavam teriam ficado estranhas, mas da forma como foram apresentadas fez sentido. Qual foi o motivo das linhas e pontos, típicas de película antiga?

[ ]s

Formel

Eu vou tatear na escuridão porque não disponho de elementos para analisar as fotos dentro do que conheço de técnica e composição, a não ser dizer que a série me agrada, mas vou me esforçar.

As duas primeiras, possivelmente por serem mais legíveis, me hipnotizam mais.

As duas últimas se não estivessem na série, seria muito complicado para eu entender, mas ainda assim o movimento agrada, embora a disposição no retângulo nem tanto.

Não sei que equipamento você usou, mas não parece ser digital, pontos e riscos típicos da revelação de filme, a menos que seja possível criar essas imperfeições em algum programa de manipulação. É possível descrever o processo?

A pele alva em contraste com a escuridão, além de criar um efeito bonito, não sei porque, passam uma sensação de solidão, embora ela não pareça só.

Na segunda foto, o braço e a mão parecem mostrar um caminho que percorre o retângulo de cima a baixo.

A falta de nitidez não incomodam, até porque penso ser o movimento o leitmotiv da série de imagens.

É um conjunto completamente diferente do que estamos acostumados a ver aqui na galeria. Toda a série causa um certo desconforto, não porque as fotos não são bonitas, não são agradáveis, mas porque não é uma linguagem convencional, de fácil digestão.

Ao relacionar seus textos e essas fotos, tive a impressão que os textos que você vêm paulatinamente escrevendo é uma espécie de preparação do público para a apresentação das fotos e também uma espécie de consolidação de um pensamento sobre a concepção fotográfica.

Não sei se o tipo de revelação, as linhas ou a própria modelo lembram demais a foto abaixo, do B. Brandt, que selecionei de um livro do Emídio para fazer um exercício no curso. Ao meu ver, se tem semelhanças, é perceptível que também tem muitas diferenças.

Fiz um esforço para dizer alguma coisa sobre as fotos, se útil não sei, mas como conversamos sobre a questão recentemente no tópico das Cataratas, tomei a liberdade de fazê-lo e espero que outros se arrisquem também. Até porque não acredito que as postou com a expectativa de alguém dizer que o risco da primeira foto incomodou ou que não é possível reconhecer o vulto das demais. A coisa deve ser mais sensorial.

Agradeço pela oportunidade de ver algo diferente e pelo exercício que é ver e pensar.

Eis a foto que mencionei anteriormente:

http://www.bocamuseum.org/clientuploads/BillBrandt_Nude.JPG

Obrigado pelos comentários. As linhas e pontos não poderiam ser mais digitais: sensor sujo (ou imundo!). Como usei uma abertura minuscula para compensar o tempo de exposição alto durante o dia, as linhas apareceram. Até dei uma assoprada nele e o grosso da sujeira saiu, mas essas continuaram. No fim, achei que combinaram com o resultado e resolvi deixar. Afinal, a fotografia também é feita de acasos.

O que eu escrevo de fato tem a ver com a fotografia que faço. E o meu maior norte é o livro do Arlindo (A Ilusão Especular) em que ele descreve que a fotografia é construída para ser uma ilusão, para enganar. Quando fazemos uma fotografia que não congela o movimento, quando alteramos os tons, quando aparecemos num espelho ao fotografar, denunciamos essa construção ilusória. E aí podemos “brincar” com outras possibilidades, pois vemos que fazer um tipo de fotografia é apenas uma convenção. Ninguém gosta da 4, mas eu gosto muito pois representa tudo isso e acaba sendo apenas uma impressão.

Adoro o Bill Brandt, justamente porque as fotografias dele também são “anti-fotográficas” e se não me engano ele é citado pelo Arlindo. Mas não ouso me comparar com ele… rs. Nesse álbum que linkei tem algumas fotos inspiradas pelo trabalho dele.

No fim das contas, é isso mesmo, as pessoas têm toda liberdade de gostar ou não, mas o legal é se arriscar e perceber as impressões frente a algo que aparece com menos frequência por aqui.

Gosto muito da primeira e da segunda, a primeira mais que da segunda, pois sugere-me dança, balet, sem ser. A Tati é uma graande modelo, Rodrigo, pois o grande dom de quem é fotografado é encarnar a “personagem” que é. E ela sempre acerta nisso, na dose, na pose, sem absolutamente tirar seus méritos de fotógrafo, pois a fotografia, especialmente aqui é uma concepção mais ampla.

Das duas últimas eu não gostei. Você sabe que para mim a fotografia não pode romper completamente com a representação, o gesto não pode virar pincel. E para mim ambas ultrapassam esse limite da arte representativa que em minha opinião é constituinte essencial da fotografia.

Esse sempre foi um ponto em que pensamos diferentemente, e minha análise reflete isso.

A última em minha opinião ultrapassou o ponto, mas poderia ser uma foto excelente. Dentro de um processo de exploração, cada uma das fotos tem o seu lugar, mas como Fotografia, isto é, como aquele pedaço de papel isolado que é visto isoladamente, as duas primeiras são as boas, em minha opinião.

Bacana.
Grande abraço,
Ivan

Concordo com o Ivan. Queria ter abordado esse tema no outro fórum, mas sabia que o Ivan o faria. rs

Veja que elas só oferecem alguma ligação com significados, mesmo que mínima, sob o guarda-chuva da primeira e segunda foto.

Separe-as, como o Formel disse, e elas perdem toda e qualquer representação para o espectador.

Mas a 1ra e 2nda, seriam fotos mesmo que eu gostaria de ter feito. Ao contrário da Kika, acho essa linguagem de fácil digestão, e de muito conforto.

Mas isso já não tem a ver com certo e errado, e sim com a pulverização gerada de familiarização de conceitos estéticos fora do convencional, qual pratico com intensidade para um dia produzir imagens nesse sentido.

isso aí

Ivan e Marcelo,

Obrigado pelas análises, é bom receber críticas bem fundamentadas e sensatas. O Ivan usou o termo exploração e isso resume bem o espírito do trabalho. Dificilmente vejo minhas fotos como finais, e mais como passos num percurso. Sendo assim, não me incomodo de passar do limite, de produzir algo que pareça ruim ou sem sentido quando descontextualizado. Eu concordo que as melhores fotografias são aquelas que impressionam ainda sendo fotografias, numa junção bem feita de conceito e estética dentro de uma certa linguagem, mas gosto de brincar com as tangências fazendo fotos que não se encaixam nesse modelo.

Se não experimentarmos, como saberemos o ponto certo?

Já que abordaram essa vertente de discussão, quero só falar que eu pratico bastante esse tipo de fotografia pessoal, sem significado para terceiros, com tangências que não se encaixam em modelos.

O Ivan chamou uma vez isso de ´alienação artística´; e é uma expressão que define bem o que é isso.

No entanto, devo acrescentar que praticar esses tipo de fotografia, sem significação ou representividade evidente, oferece, pelo menos para mim, uma agudez em achar significações fotográficas onde, posteriormente, em situações produzidas ou naturais, olhos menos treinados não reconheceriam.

Quer dizer, acaba no mínimo, sendo utilizado como um ´amolador de olhar´, se é que vocês me entendem.

E pra finalizar, ainda acaba num bom ditado cômico e popularesco:

Quem não pratica, se estrumbica. hehehe

abraços

Também gosto de trabalhos sem essa representatividade. Por isso gosto da terceira e especialmente da quarta foto, pois ela não mostra nada, ela é apenas uma impressão produzida através da câmera. Acho que pensamos de forma semelhante.

O Ivan dirá, com bons argumentos, que isso já não é fotografia, pois faltam a ela elementos estruturais que caracterizam a fotografia como tal e que foram definidos historicamente. Poderíamos até discutir se essa é uma noção mais ou menos válida, mas nem chega a ser o caso pois, como o Ivan também sabe, não me preocupo se o que faço é fotografia ou não. Faço o que acho interessante e significativo, experimento, e para que um resultado me agrade não é necessário que ele caia dentro de certos limites.

Engraçado como até o sensor sujo acaba fazendo parte da foto e de certa forma contribuindo, depois que vc falou é que percebi que os pontos e linhas se repetem nas mesmas posições.

Para mim o simples fato de sair do lugar comum já é especial. Todo os dias milhares de fotos de pôr-do-sol, cachoeira, macro, passarinho, paisagens, etc. Invadem a net e ver fotos que fogem disso já é bom, mesmo que não agrade, não é o caso, mas mesmo não agradando apenas o fato de ver o diferente já é legal.

[ ]s

Formel

Formel,

Acho que as minhas fotos nem fogem tanto assim do lugar comum, tem muitos trabalhos mais originais e expressivos do que o que postei. Mas nos fóruns de fotografia é patente que há uma linguagem predominante e mais valorizada, na qual as fotos que postei não se encaixam muito.

A partir da discussão que tivemos aqui e de outras, aproveitei para escrever um pequeno texto.

“(…) me agrada muito a ideia de usar a câmera como uma máquina de produzir impressões, tanto quanto de produzir imagens “reais”.”

Penso exatamente assim.

Olá!

Bom, vou seguir a ideia do Ivan. Gostei das duas primeiras. As 3 e 4 não. Também pelo mesmo motivo. Gostaria de ver o EXIF dessas fotos…

Abraço, Blasius. :ok:

As fotos foram feitas em ISO 200, f/26 ou 32, 1/8 ou 1/6.