Projetos Sociais/Ambientais - Fotografia 3º Setor?

Bom dia!

Gostaria de saber a opinião e a visão dos amigos foristas sobre o papel da fotografia em projetos sociais e ambientais. O que há pra fazer? Como nossa atividade pode ser útil além da denúncia jornalística? Qual a visão de cada um sobre o que seria uma atividade de fotografia engajada? O que vocês fariam? Com ou sem remuneração? Que exemplos existem?

Abraços

Bem, o que posso falar é sobre a minha experiência. Trabalho com educação ambiental a mais de 10 anos e minha formação é em Geografia. Trabalho em uma das escolas técnicas do Centro Paula Souza em São Paulo e faço parte de algumas entidades voltadas para a conservação ambiental. Alguns anos atrás comecei a montar uma atividade que envolve fotografia e sensibilização ambiental. Seria mais ou menos um workshop de fotografia de natureza, mas com o lado educacional muito forte. A atividade é voltada para capacitação de professores da rede pública e já foi aplicada em alguns eventos de abrangência estadual. Outra atividade é oferecer trabalho para ONG’s que trabalham com o meio ambiente. Às vezes elas possuem verba para pagar por imagens, mas na maioria dos casos não. É tudo feito por voluntariado. Outra atividade que tive a oportunidade de participar foi a de registro de um parque ecológico na região. Para falar a verdade essa atividade foi mais para satisfação pessoal, mas através do trabalho fotográfico tive acesso a locais onde a visitação pública era proibida. Foi feito um acordo com a direção do parque para que as fotos fossem utilizadas na divulgação da preservação do lugar em troca de permissão de entrada e de um guia para nos acompanhar.

Parte do meu trabalho envolve isso, gostaria de atuar mais, mas falta grana ainda.

Trabalho em fundãção e os alunos recebem atualmente oficna de fotografia, alguns já conseguem renda extra com isso. Tb uso a fotografia com a molecada nas atividades de educãção ambiental, como sensibilização para o pensar no todo e não só no indivíduo.

Participo de um projeto muito legal duas vezes por ano, que favorece crianças órfãs, ajudando a conseguir pais e famílias adotivas para eles. São crianças que tem mais dificuldade em ser adotadas, algumas chegando aos 16, 17 anos, outras com problemas de saúde, problemas mentais, físicos, etc.
É uma colaboração entre uma galeria fotográfica e uma organização que cuida destes menores órfãos. Ele chamam fotógrafos profissionais para um dia de fotos, normalmente num museu para crianças ou nos jardins a volta do museu. Da última vez éramos uns 8 ou 9 fotógrafos, e umas 20 crianças. Cada um fotografou umas duas ou três crianças. Estas fotos depois vão compor uma exposição que a galeria monta, e que viaja por vários espaços tipo shoppings e ambientes de bastante circulação de gente. Assim, já conseguimos adoção para muitas dessas crianças. Por coincidência, soube há mais ou menos 1 mês que os irmãos que fotografei foram oficialmente adotados , entre outras. Houve um evento grande onde veio até o governador da Flórida, televisão, etc., no dia da assinatura da adoção. Todos os serviços são voluntários, claro. Os fotógrafos recebem crédito nas fotos e menção do website deles : http://www.heartgalleryofbroward.org/ Os dois garotos na foto a direita são os que fotografei nesta última vez.
É uma idéia muito bonita, e a satisfação de saber que participei do final feliz daqueles meninos não tem igual :slight_smile:

Interessante sua preocupação Marcelo.

Eu já divulguei aqui no fórum um projeto chamado “Foto da lata, luz reveladora” que ganhou prêmio da UNESCO, foi homenageado pela Universidade de Nanterre (França) e tem como objetivos gerais utilizar a linguagem fotográfica para promover a inclusão social, a formação de identidade e o resgate da auto-estima de grupos menos favorecidos e como objetivos específicos promover a inclusão social e geração de renda de jovens, adultos e idosos através da educação e formação continuada (fotografia), o livre acesso da população a ações culturais, aprofundar a compreensão sobre os elementos que compõe a cultura, orientar a população na construção da cidadania, realizar ações educativas de preservação ambiental.

A técnica utilizada é o pinhole, técnica fotográfica com custo baixo e fácil acesso.

A organização não-governamental Instituto Luz Reveladora Photo da Lata é coordenada pelo fotógrafo gaúcho Jorge Aguiar que, inclusive, está inscrito aqui no fórum. O pessoal do projeto tem site, blog, orkut etc.

Aliás, eu gostaria que o próprio Jorge Aguiar criasse um tópico para divulgar o projeto e falar sobre a experiência. Tá feito o convite, tomara que ele leia.

Eu não sei se é impressão minha, mas exceto algumas iniciativas como as citadas nas respostas acima, esse tipo de preocupação, além de individual na maioria das vezes, não encontra muita ressonância no meio fotográfico, cujas necessidades de consumo individuais imperam sobre experiências mais amplas e coletivas. Impressão é impressão, posso estar equivocada.

Oi Kika (sempre que escrevo pra ti fico lembrando daquela garotinha do “De Onde Vem” ta TV Cultura, rs),

Acho que isso não é característica de nosso meio exclusivamente. Mas acredito que o distanciamento tem muito a ver com o tipo de atividade em si, pois, fora as práticas alternativas como o Pinhole, não se pode, por exemplo, ensinar fotografia para comunidades carentes. A brincadeira é cara demais para se sustentar. Então fica-se reduzido aos registros voluntários de eventos, ações, retratos… coisas assim, que nem sempre têm um efeito mais determinante e eficaz do que arrancar alguns sorrisos (o que não é pouco, mas parece). Por isso mesmo coloquei essa questão aqui: Tentar conhecer e perceber outras experiências para saber quais papéis podemos representar nesse contexto.

Certamente não é falta de boa vontade das pessoas, mas justamente falta de saber o que fazer. Essa é sempre a maior barreira.

Abraços

Alguns de vocês já devem ter visto, mas vale a dica :

Born Into Brothels

http://www.imdb.com/title/tt0388789/

Está em inglês, não sei o título em português. Alguém me ajuda a achar?

É um grande exemplo de humanidade, dedicação e inteligência para ajudar quem precisa.

Quem dera isso fosse mais divulgado. :slight_smile:

Concordo contigo, se não fosse práticas alternativas como o pinhole a experiência seria cara demais, mas nada que empresas de grande porte aliado à pessoas de boa vontade e com experiência na área não podiam suprir.

De fato, é menos boa vontade e mais dificuldades de organização e angariamento de recursos, dificuldades pelas quais passam grande parte das atividades sociais/ecológicas no país.

Lembrei de outro projeto que virou documentário. O desenvolvimento das atividades era tão cheio de barreiras que eu nem sei como a fotógrafa conseguiu concluí-las. Ao longo do documentário “Nascidos em bordéis” a gente vai desanimando junto com ela e o resultado depois é decepcionante até para os mais bem intencionados.

Captou a idéia!!! :ok:
No início minha foto era ela mesma, depois eu perdi e fiquei sem aquela que era a mais legal.

Kika,

acho que postamos ao mesmo tempo… mas obrigada por postar o nome em português.
No entanto, não concordo contigo.
Não acho que o resultado tenha sido decepcionante…
O documentário, além de ganhar um Oscar e levantar grande visibilidade para o projeto, depois dele se ramificou e hoje ajuda a muitas mais crianças necessitadas da India, Paquistão, Bangladesh, e vários outros países pobres.
Veja no http://www.kids-with-cameras.org/, o trabalho da Zana Brisk continua firme. :slight_smile:

Guigui:
Acho que postamos juntos ou eu não vi a sua mensagem quando editava.
O documentário é maravilhoso. Tinha falado dele aqui: [CINEMATECA] Fotografia em movimento
Quando falei em decepcionante referi-me à história das crianças que, na parte final do documentário, traça um percurso de todos os envolvidos no projeto. Não lembro ao certo o que aconteceu com cada uma, mas parece-me que nenhuma permaneceu na escola especial para qual foi um sufoco conseguir vagas, voltaram pra casa sem concluir os estudos ou por vontade própria ou por pressão da família, nem precisa dizer que nenhum deles continuou na fotografia. Se me lembro bem, apenas uma criança do projeto, que nem tinha sido escolhida para aquela escola diferenciada, continuou os estudos.
O que eu quis dizer não se referia ao resultado do projeto que teve seu mérito, não há dúvida, mas ao universo daquelas crianças que é muito complexo e uma iniciativa dessas, por mais meritosa que seja, não é capaz de modificar um estrutura que envolve condições familiares, sócio-econômicas, culturais que estão enraizadas naquela comunidade.
Enfim, o documentário e o projeto são fabuloso, decepcionante é a trajetória de vida daquelas que crianças.


Guardada as proporções, ao assistir ao documentário eu sofria junto com a fotógrafa, pois no ano de 2003 eu participei de um projeto social na Vila Brandina. Quem mora em Campinas deve conhecer a região. Lembro-me de uma série de dificuldades que era preciso enfrentar, dificuldades de integração, de compreensão, de aceitação etc. A questão material e as dificuldades de financiamento se costumam ser complicadas, nesses casos são problemas menores.