The Washington Ballet - fotografias de Cade Martin

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Formel

Alguém sabe onde raios eu encontro esse livro pra vender no Brasil???

abraços

Textura cada vez mais me chama a atenção.

http://blog.uncovering.org/archives/uploads/2009/09122704_obvious.pt_twb.jpg

Fotografar espetáculos, sobretudo dança, é bem difícil porque não é só congelar o movimento, tem que transmitir a essência do espetáculo, o universo lúdico, ser fiel ao movimento e conhecer um pouco da dança (técnica) e do espetáculo. Um vez conversei com uma bailarina e ela me falou sobre a importância do fotógrafo conhecer os movimentos do ballet. Se o fotógrafo não tem dimensão disso e publica uma foto com um movimento errado, embora para ele a foto pareça bonita, dependendo da situação e do contexto, pode prejudicar a carreira da bailarina.

Abordagem cafona.

Para produzir fantasia, é melhor desenhar.

Quando eu estava na faculdade, vários amigos eram bons desenhistas, e eu não era mau. Então conversávamos muito sobre isso e mostravamos uns aos outros os desenhos, e havia um amigo que só desenhava “cenas épicas/espaciais/medievais/cafonas”. Um dia, conversando com um outro amigo sobre isso ele me disse em tom de ironia… “mas se o mundo dele é assim, deve ser incrível” -risos.

Essas fotos são exatamente isso: cafonice.

Ivan!

Já vi você falando várias vezes dos seus desenhos, um dia você podia mostrar pra gente. O que acha?

Se achar pertinente, você poderia explorar mais os elementos que tornam uma fotografia (ou um fotógrafo, por que não?) “cafona”?

Nesse caso, criar uma situação artificial, um universo fantasioso, é o que as tornam “cafonas”.

São só perguntas, por hoje e sempre.

Kika;

Obrigado por levar com bom-humor meu excesso de convicção -risos. É assim mesmo que deve ser levado. Levando menos a sério fica mais fácil…

Meu ponto de vista é que, pelo que a fotografia é, ela é uma pratica realista, não no sentido do Realismo filosófico (embora haja correlações que é preciso denunciar como falsas, mas isso é outra questão e estou preparando um artigo no Fot em Palavras sobre isso), mas no sentido da literatura Realista do Machado, do Eça e de tantos. No sentido de uma crônica da vida.

Quando a fotografia abandona aquilo que é só dela, que nenhuma outra prática tem, que é a capacidade de comentar o mundo em imagens, e se torna uma produção de imagens oníricas, ela rompe com esse fundamento realista que a tem caracterizado (com exceções) desde sempre. Porque a fotografia é única na sua capacidade de oferecer essa crônica do mundo através de imagens, e é tão única que isso termina sendo sua marca distintiva.

A produção de imagens oníricas pode ser feita de muitos outros meios, independentemente da foto ser montada ou capturada em um só disparo ou não. Podemos desenhar, podemos fazer colagens de fotos, podemos misturar fotos e desenho/pintura, podemos modelar tridimensionalmente. Ou seja, nada nisso é inerente à fotografia, enquanto a crônica da vida é.

A fotografia em sua origem, ou seja, no seu impulso gerativo, foi alicerçada no desejo de se capturar as imagens do mundo. Essa marca de origem mantém-se, e, embora haja explorações marginais, a história da fotografia escreve-se desenvolvendo essa marca de origem.

Na música, por exemplo, não existe canção (letra e música numa sinfonia perfeita) mais “cafona” pra mim do que uma do Amado Batista “No hospital, na sala de cirurgia pela vidraça eu via você sofrendo a sorrir e seu sorriso aos poucos se desfazendo então vi você morrendo, sem poder me despedir” (primeiro lugar) e uma do Odair José “Pare de tomar a pílula porque ela não deixa o nosso filho nascer” (segundo lugar).

Mas, na música, mesmo que não se conheça teoria musical nem se perceba as nuances dos acordes, ritmos, melodia, harmonia, já se convencionou dizer que tais intérpretes e compositores integram a “música brega” brasileira, ainda que exista público até hoje (tá aí minha tia, meu tio que não me deixam mentir) e que nos últimos tempos tentaram resgatá-la chamando-a de música legítima do povo brasileiro ( sem considerar os problemas o que é legítimo e o que é povo?) e, por conseqüência, tirando-lhe a pecha de “brega” e introduzindo-a no consumo “cult”. Pra mim, a maior expressão desse fenômeno recente é o livro “Eu não sou cachorro não”.

Em todo caso e ainda assim também na música é difícil definir por que essa música é tida “brega” enquanto outras não são. Por exemplo, por mais que Carlos Lyra seja reconhecido como um grande melodista na história da música e nunca tenha visto ninguém chamando-o de brega (ao contrário, Bossa Nova, mesmo próxima do protesto, é sempre “chique”), não foi feliz quando regravou a música “Ciúme” porque a canção é uma conjunção de elementos, logo, não basta apresentar uma sofisticação da música e reiterar a pobreza da letra.

Pois bem, penso que quando alguém caracteriza a música como sendo brega, refira-se à pobreza tanto musical quanto da letra, por maior que seja o público.

Na fotografia, não sei bem como pensar a questão. Lembrei agora de um fotógrafo aqui que, quando apresentado no fórum, achei as fotografias lindas, porém, olhando bem e lembrando hoje, considerei o tratamento “brega” até o infinito, mas não sei bem como explicitar os motivos disso. Só criar uma situação artificial não deve ser o motivo por que há tantos fotógrafos que criam e nem por isso são assim rotulados.
Enfim, por enquanto, quis apenas complementar o post anterior.

P.S.: Ivan, postamos simultaneamente.

Um complemento totalmente inútil, já que o assunto descambou pra esse lado, é que vi certa vez o meu ídolo-mor Sidney Magal comentar sobre a origem do termo “brega”, que se referia à zona de prostituição da rua Manoel da Nobrega, na Bahia, se não me engano. Com o tempo, o NO de NOBREGA foi apagando do letreiro, passando a ser conhecida como “zona do brega”, que tinha uma conotação de confusão, e não de cafonice. Só nos anos 80 que a palavra brega teve o seu sentido mudado.
Agora, a palavra da moda é “vintage”. :hysterical:

momento rádio-relógio
:doh:

Ivan,
Entendo perfeitamente quando se refere a uma, digamos, “invasão” do recurso fotografia para criar, do absoluto zero, imagens oníricas, fantasiosas e claro, principalmente devaneios lisérgicos ao melhor estilo “podes crer” como os do seu amigo, como técnica inadequada que pode gerar resultados de gosto duvidoso (cafona mesmo). Muito embora eu acredite que não se pode limitar a arte em áreas de atuação, fica o limite pelo bom e pelo mau gosto. Mas acho que no caso em questão, trata-se de uma representação de uma representação. Ou seja, há um real a ser representado, uma vez que é uma homenagem a uma companhia de ballet, registrando seus integrantes e citando a cenografia de cada espetáculo. Tem uma origem real na montagem e em seus integrantes, partiu de algo pré-existente e o objetivo seria mostrá-los, registrá-los segundo a interpretação do Martin. Ou seja, talvez desenho ou outra técnica mais livre fosse menos ainda apropriado. Desenho foi o recurso do cenógrafo antes da montagem do espetáculo, e agora tudo já existe. A fantasia, no caso, ficou por conta dos autores dos clássicos como O Quebra Nozes, Peter Pan e etc. ali representados pelo ballet e interpretados por Cade Martin.

São só palavras minhas sobre a mesa Ivan, e aproveito para perguntar: O que pensa de alguns trabalhos da Annie Leibowitz com as celebridades os quais ela executa sobre cenários talvez ainda mais fantasiosos? Eu particularmente acho fútil em sua essência, mas acho a execução magistral (prefiro seu retratos despojados de tanta produção dos tempos da Rolling Stone). Mas pensando no que você disse no início, vai de encontro a algo que já me ocorreu, que talvez toda aquela produção fosse mais apropriada para o cinema e centenas de diretores de fotografia poderiam fazê-lo tão bem quanto. Então teremos ai mais um caso de invasão inócua. O que acha?

Ah, a propósito, a quem possa interessar: O livro somente é vendido pelo site da companhia, edição limitada em 2.000 exemplares e, aparentemente, eles não têm logística pra mandar para fora dos EUA.

Abraços

Marcelo;

Apesar de minha aparentemente enorme convicção -risos-, isso é mais a maneira como falo do que como penso.

Apresentei meu ponto de vista, que busca apoiar-se em uma idéia sobre o que é a fotografia a partir de sua origem, da motivação para a própria invenção da fotografia, do desenvolvimento da fotografia. Evidentemente traçar fronteiras entre isso e aquilo é sempre atividade imprudente, melhor sendo a declaração “isto pertence ao conjunto desde que considerada tal coisa” e “isso não pertence ao conjunto se considerada tal outra coisa”. Ou seja, há uma fronteira móvel.

Citando a cenografia não é a mesma coisa de fotografar na cenografia, em um ensaio geral ou mesmo em um ensaio para fotografia. Esse passo que torna a coisa menos Realista (machadianamente) é grande ou pequeno? Remeto-me ao parágrafo acima, é uma questão de fronteiras e mesmo de propósito, pois também a fotografia publicitária é não-Realista, e é fotografia. É um emaranhado danado, e penso que nós lucramos mais identificando a questão do que tentando resolvê-la.

De todo modo, eu, olhando o resultado o achei cafona, achei que o não-Realismo acentuou aspectos fantasiosos e oníricos de tal forma que virou uma fantasia.

O seu comentário refere-se a obras como essa da Annie Leibovitz:

http://www.livingorlando.com/wp-content/uploads/2008/04/annie-leibovitz-julianne-moore-michael-phelps.jpg

Vale a análise acima para a produção da Annie Leibovitz. Não é a parte de sua produção que mais gosto, ao contrário, acho enjoativa e meio cafona, embora outras obras dela sejam espetaculares e façam remissão a composições e luzes clássicas da pintura, como essa:

http://www.freephotoresources.com/wp-content/uploads/2009/06/AnnieLeibovitzVAnityFairPor.jpg

Diria da Annie Leibovitz: Fotografando tão bem, não precisava fazer essa cafonália -risos.

Eu só não entendo qual é o problema de uma fotografia demonstrar algo irreal. Só por que os dinossauros da fotografia a criaram pra mostrar o mundo como ele é?

Eu gosto da fotografia pois ela me faz viajar no assunto, assim como um bom texto de um conto com uma história real ou irreal. Eu acho cafona isso de criar limitações do tipo: não tratar, não modificar, não compor com mais de uma foto, não fazer isso, não fazer aquilo…

Você de fato não entendeu nada. Isso é verdade.

Não sei se eu entendi direito kkk, mas acho que a discussão caminha noutro pé. Não sobre o que pode, o que não pode, mas no que, dentro de uma determinada concepção fotográfica, esse tipo de fotografia não representa uma “crônica da vida”. Atente para a frase: “Evidentemente traçar fronteiras entre isso e aquilo é sempre atividade imprudente”.

Tinha uma questão sobre o assunto, mas depois formulo melhor porque tenho um monte de coisa pra resolver hoje.

Obrigada Rafael por me atualizar sobre a “vintage” e só o S. Magal mesmo pra focar nas origens do termo “brega” dissociando-o do mal gosto e recolocando-o sob outro prisma.

P.S.: Postado simultaneamente de novo.

Bom, eu não sou tão bom nas palavras quanto o Ivan, mas ele começou dizendo que é melhor desenhar ao invés de fotografar, caso a sua intenção seja produzir fantasia. Eu discordo.

Não é que eu não entendi nada, talvez você que não tenha entendido o que eu quis dizer.

Gui, essa é uma discussão muito interessante. Eu apresentei uma razão para não achar que tal abordagem seja legitimamente fotográfica.

Fotografia não é meramente usar uma cãmera. Fotografia é uma prática humana que tem uma história, e que se referencia nessa história.

Minha forma de identificar a essência ou o fundamento de uma prática envolve responder à seguinte questão: “o que essa prática tem de diferente das demais?” Ora, a produção de fantasia não é traço distintivo da fotografia, a invenção de imagens oníricas não é também. Pode ser feita de muitas maneiras, até mesmo fotográficamente se dor mais pratico, mas a intenção não é fotografar e sim registrar imagens que poderiam igualmente ser ciradas de inúmeras outras maneiras. O que a fotografia faz que nenhuma outra faz é depor sobre o mundo.

Vejo isso de outra forma.

Vc precisa ter bem claro o que te leva a produzir algo de determinada forma. Isso vale tanto pro mais real quanto pro mais fantasioso. Se a produção é aleatória, significa que vc não tem uma certeza estética do que está fazendo.

Por outro lado, quando vc assume uma linha, os julgamentos a serem feitos sobre a sua produção serão muito mais fortes, pq as pessoas encontram onde questionar e isso torna a discussão mais rica.

O Ivan disse achar cafona dentro de determinada linha de pensamento e esse é um direito dele, tem gente que vai ver e adorar, dentro das leituras que fizer das obras. O que o autor da foto vai fazer é simplesmente deixar claro o porquê de suas escolhas.

Eu curto desvirtuar a realidade, ou pelo menos criar uma realidade mais próxima do que eu sinto do que do que eu vejo, acho que usar técnicas diversas poderiam me ajudar nessa reconstrução, o problema é ter medo de a técnica aparecer muito mais do que a linguagem. A grosso modo, penso naqueles filmes em que só aparecem os efeitos especiais pq as mensagens são nulas.

Dentro desse aspecto, eu costumo me perguntar se o que eu vejo é necessário ou exagerado para passar a mensagem. Se for exagerado vejo como cafona, se for necessário a discussão morre ai. O que pega é que os limites podem variar na leitura de cada um.

Usando de novo o que o Ivan disse, dentro do que ele postou como sendo o seu mote na fotografia, a foto vai sim ser cafona e a Anie Leibovitz também (o que não tira a qualidade do assunto). Se vc por outro lado, vê a foto como ferramenta apenas (e não como arte) para a expressão de seu pensamento, amplia a linha, pq o valor da mensagem vai ser maior do que o resultado. O cuidado que se deve tomar no caso é o de não achar que qualquer coisa que se faça vale só pq tem uma mensagem interessante. Saber as regras e onde e pq quebrá-las é importante para não criar algo exagerado.

Independente do fato do que é arte ou não, porque isso é um assunto bem complexo, uma das melhores coisas que podemos desfrutar da arte é o livre arbítrio que ela proporciona. Para alguns a fotografia tem um caráter naturalista, outros necessitam de uma abordagem surreal, e, contanto que não se tenda a impor universalmente que uma delas é mais “correta” que a outra, está tudo lindo.
Foi até engraçado o Ivan falar do desenho, porque eu fiz exatamente o contrário, eu saí do desenho para experimentar a fotografia porque ele não cabia nas minhas necessidades mais, digamos, esquisitas (essa foi pra Kika… :hysterical:)
No mais, aspectos como feio, brega, ruim são abordagens quase sempre empíricas - graças a Deus - que só refletem como vemos alguma coisa e não o que ela é realmente (até porque ser alguma coisa é algo que também é muito complicado de se estabelecer). E não há mal nenhum nisso.
A Anais Nin costumava dizer algo que eu acho muito certo na arte: “não vemos as coisas como elas sao, as vemos como nós somos”.

Veja bem, Rafael, eu não estou discuntindo se é arte ou não, mas sim se é fotografia em seu aspecto maior, ou somente ilustração feita com fotografia.

Por exemplo, você pode pegar uma tela e fazer sobre ela uma colagem. Não será pintura, será colagem. Pode ser até mais artística que uma pintura, mas não será pintura.

Não há dúvida que se tratam de imagens extremamente cafonas e bregas, e até concordo com a máxima do Ivan “Para produzir fantasia, é melhor desenhar.”

Porém, no caso específico, segundo o texto superficial que acompanha as imagens, tratam-se de fotos de uma companhia de dança encenando suas apresentações. Sendo assim, as fotos têm um caráter de realidade (representação de) que as remete sim ao que o Ivan chama de “crônica da vida”. Trata-se da representação dos movimentos, da estética e da personalidade da tal companhia de dança, e não de pura fantasia.

Se as fotos são cafonas e fantasiosas, é pq a companhia é.

Abraço.